Como o alquimista peruano utiliza uvas tradicionalmente empregadas na fabricação de pisco para produzir vinhos.
Um contador de histórias, que dispensa o uso da fala ou escrita, mas tem seu nome pronunciado entre membros das mais altas rodas etílicas do mundo. Pepe Moquillaza usa as mãos para encantar com a produção de verdadeiras histórias líquidas. O conceituado alquimista peruano, criador do melhor pisco do planeta, agora é também produtor de vinhos ousados e cheios de personalidade. É na zona de San Juan de Ihuanco no Deserto de Ica, a 300 km ao sul de Lima, que a mágica acontece. Botijas de argila pré-hispânicas, anteriores até mesmo à colonização inca, passam a ser usadas para produção de vinho e pisco, possibilitando o resgate da tradição local do feitio de vinho. Da mesma maneira, Pepe usa uvas coloniais, como Torrontel e Quebranta, já utilizadas para a produção de vinhos e mistelas, exclusivamente para a produção de sua obra mais genial: o pisco. A fazenda existe há mais de 400 anos; a bodega, cerca de 100. Pepe investe nas tentativas de revitalizar os fermentadores de cimento centenários, da mesma maneira que fez com as botijas de argila. Sommeliers ao redor do mundo, chancelam que seus vinhos elevam a comida ao posto de protagonista. Naturais e biodinâmicos, eles fazem o papel de coadjuvantes, destacando as sutilezas dos cheiros, temperos e sabores dos alimentos. Quebrada de Ihuanco, um tinto com a uva Quebranta, famosa por dar o inconfundível gosto do pisco, é feito com maceração semicarbônica e vinificação natural. A safra de 2015, por exemplo, ganhou nuances mais adocicadas em relação a 2014. A apoteose é o alaranjado Albita. O processo de maceração chega a durar cerca de 30 dias. Orgânico e artesanal, ele nasce de duas uvas pisquenhas:
Albilla
Moscatel de Alexandria
Para domá-las, é preciso colhê-las antes do amadurecimento do contrário, elas terão mais acidez. Assim como Quebrada de Ihuanco, as uvas também passam pela maceração carbônica. Para alcançar o tom alaranjado, Pepe deixou as cascas em contato com o mosto por 60 dias e depois as inseriu nas botijas. O embaixador do Pisco no Peru O pisco premium Inquebrantable, reconhecido como um dos melhores do Peru, marcou a gastronomia em 2003 e lançou ao mercado o nome de Pepe Moquillaza. A intenção era valorizar a uva Quebranta, variedade que sofreu mutação de Negra Criolla e Negra Molle, trazidas na época em que o Peru ainda era colônia. A Quebranta se adaptou ao terroir desértico do Ica, tornando-se uma uva autóctone do Peru. Foi capaz de resistir ao pulgão filoxera e vem sendo utilizada como porta-enxerto, além de produzir em pé franco. Era a uva para produção de vinho e Pisco, à época da colônia. Se é para resgatar a tradição, a essência do Peru, deve-se utilizar a quebranta, argumenta Pepe. Com técnica colheita manual, fermentação natural e longa e botijas de argila foi possível mostrar o potencial da quebranta, para ele, a rainha das uvas no Peru. O sucesso da empreitada, o levou a acreditar que as uvas pisquenhas não poderiam ser limitadas ao pisco, pois, na época das colônias, eram a base da produção de vinho também. A partir daí, nasce o produtor de vinhos naturais.
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