O sabor fascinante das altitude Bolivianas e tradições seculares
Como vinhedos cultivados há 200 anos prometem colocar a Bolívia na rota mundial dos vinhos naturais
A 2.300 metros sobre o nível do mar nascem alguns dos vinhos mais interessantes da Bolívia: Jardín Oculto. Videiras selvagens de cerca de 200 anos, ainda produtivas, sobem como trepadeiras utilizando árvores como sistema de condução. Este sistema de produção, conhecido como Vinhas do Enforcado no norte de Portugal apareceu aqui desde a introdução das videiras pelos colonizadores espanhóis, e aqui recebeu o nome de Arbolitas. As Arbolitas não são completamente selvagens, existe todo um cuidado de poda das árvores e depois das videiras, pois se não controladas, estas chegam a atingir 6 metros de altura, impossibilitando a colheita.
Vinda de uma família de produtores de vinhos, María Jose Granier decidiu produzir um vinho diferente do que os intensos vinhos de sua família, e partiu para a região do Valle de Cinti. Lá descobriu as Arbolitas e as uvas da região, trazidas pelos espanhois: Moscatel de Alexandria, usada para a produção do singani, uma espécie de pisco boliviano, Negra Criolla e Vischoqueña, que imagina-se ser um cruzamento das duas anteriores, mas sua origem ainda é incerta. O projeto tem assessoria de Nayan Gowda, enólogo inglês com experiências em regiões vinícolas como Austrália, Hungria, África do Sul e Ucrânia.
A altitude dos vinhedos possibilita que as uvas amadureçam vagarosamente, pois os dias quentes são seguidos por noites geladas, mesmo no verão. Esta combinação resulta em vinhos aromáticos e com acidez alta, algo incomum para regiões de clima tão quente. Além disso, a vinificação de mínima intervenção, sem adição de leveduras e outros aditivos químicos, resultam em vinhos leves de baixo teor alcoólico, mas de grande potência em sabor! E como grandes mentes acabam se juntando, estão agora elaborando alguns vinhos em parceria com Pepe Moquillaza, outro produtor de vinhos fantásticos no vizinho Peru. Estamos esperando estas novidades ansiosamente!
Os vinhos naturais da vinícola boliviana Jardín Oculto
Para além do plantio, a Jardín Oculto elabora os vinhos de forma totalmente artesanal, sem colagem ou filtração e com intervenção mínima. A inerente sensibilidade feminina recomendou utilizar apenas leveduras nativas – presentes na própria casca da uva – e barris velhos. O resultado são vinhos naturais, de teor alcoólico menor do que a média, aromas suaves e sabores intensos. Conheça os rótulos:
Moscatel de Alexandria, uva que se originou ao redor da cidade de Alexandria, no Egito, é bastante utilizada para o pisco, mas também na produção de vinhos doces. Na alquimia da Jardín Oculto, o rótulo Moscatel de Alejandría se apresenta cremoso, com aroma florais e cítricos, que lembram pêssego e toranja.
Batizado como Blanc de Noirs, o Vischoqueña nasceu para ser um espumante. Porém, devido às restrições da covid-19, os produtores não conseguiram aplicar o método champenoise na bebida. Sem problema: ele assumiu a vocação de vinho branco, com notas aromáticas de flores, madressilvas e pêssego.
Já o tinto Negra Criolla, cepa também conhecida como Listán Prieto, tem aroma de frutas vermelhas, com sabor frutado e de maior densidade. Nativa da Espanha, a uva é atualmente cultivada com exclusividade na América do Sul.